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O segundo semestre de 2025 traz riscos geopolíticos persistentes
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O segundo semestre de 2025 arranca num contexto de maior estabilidade em termos de política monetária, mas com várias incertezas no plano macroeconómico, político e geoestratégico. Se por um lado os principais indicadores de inflação continuam a recuar, por outro, o crescimento permanece frágil em várias geografias e o risco político tornou-se material. A divergência entre blocos económicos e o aumento do protecionismo agravam a fragmentação global, enquanto os mercados financeiros procuram um novo ponto de equilíbrio entre rendimento e risco.
Perspetivas macroeconómicas por região
A economia da zona euro continua a mostrar um crescimento moderado e bastante heterogéneo, com o PIB a avançar 0,6% no primeiro trimestre de 2025, suportado por procura interna e crescimento do crédito, apesar de a Alemanha permanecer estagnada e fragilizada estruturalmente. Adicionalmente, os investidores internacionais têm-se voltado para a Europa graças à estabilidade política e monetária. Os fluxos líquidos para ações europeias superaram os 100 mil milhões de dólares em 2025, triplicando os volumes do ano anterior. Além disso, investimentos em setores como infraestruturas e defesa estão a ganhar força, sustentados por ambiciosos programas de investimento público. Apesar disso, o dinamismo tecnológico é desigual. A exposição europeia a setores industriais e financeiros tem sido positiva, mas a rigidez regulatória persistente continua a limitar a competitividade de longo prazo. A Morgan Stanley alerta que, apesar dos cortes das taxas de juro permitidas pelo abrandamento da inflação com o objetivo de estimular a economia, ainda não chegámos ao turning point, uma vez que falta perceber se a recuperação se vai efetivamente materializar.
Nos Estados Unidos o crescimento económico deverá continuar resiliente, ainda que a um ritmo mais contido. O consumo mantém-se robusto, sustentado por um mercado de trabalho sólido, embora o panorama fiscal tenha ficado mais incerto, com as dificuldades de aprovação no Senado do projeto de lei de cortes de impostos e aumento de despesa (Big Beautiful Bill), que adiciona cerca de USD 3,3 biliões à dívida pública americana. No plano externo, a aplicação de tarifas elevadas, tendo já atingindo um patamar médio de 13%, mais de quatro vezes o nível anterior, cria riscos de inflação mais elevada, erosão de lucros das empresas e enfraquecimento do consumo privado, especialmente com a imposição de tarifas recíprocas prevista para os parceiros que não fecharem acordos até 9 de julho. A incerteza política e comercial acrescentará volatilidade no curto prazo, particularmente em vésperas da rotação de liderança na Fed. Jerome Powell reafirmou que os cortes da Fed Fund Rate só ocorrerão se os dados de inflação o permitirem, ignorando as pressões de D. Trump, com o primeiro corte agora projetado para setembro.
Apesar dos esforços seletivos do governo chinês para estabilizar a economia, com cortes de taxas e nova injeção de liquidez pelo PBOC, ainda há sérias pressões estruturais. O setor imobiliário atravessa uma crise prolongada, com a Goldman Sachs a prever uma queda adicional de 10% nos preços das casas até 2027. Adicionalmente, o envelhecimento rápido da população continua a reduzir a força de trabalho. A manufatura também enfrenta um período de estagnação, com o PMI oficial de junho a situar-se em 49,7, sendo o terceiro mês consecutivo abaixo de 50. A China deverá registar um crescimento abaixo dos 5% em 2025, apesar dos estímulos aplicados de forma direcionada. Para além disso, as tarifas dos EUA continuam a afetar as exportações, que diminuíram significativamente em maio, aumentando a pressão sobre o ambiente externo.
O índice de preços em maio atingiu o valor mais alto em mais de dois anos. O Banco do Japão elevou as taxas de juro para 0,5% e tem vindo a reduzir gradualmente as compras de dívida, embora com cautela. As reformas empresariais e a melhoria de governação corporativa têm atraído o interesse dos investidores estrangeiros — em abril de 2025 registaram-se entradas líquidas de cerca de USD 56,6 mil milhões, apesar de alguma aversão ao risco, ainda que pontual, devido à instabilidade internacional, o que sugere que a valorização dos ativos locais poderá continuar se a rotação de fluxos globais em direção ao Japão se mantiver.
Os mercados emergentes continuam a oferecer oportunidades diferenciadas. A Índia destaca-se como uma das economias mais promissoras, com crescimento interno robusto, reforço das infraestruturas e reformas estruturais. Já a América Latina mantém-se dependente da evolução das commodities e da estabilidade política. A política monetária nos emergentes começa a flexibilizar, mas a evolução do dólar continua a ser uma variável crítica para o desempenho destas economias.
Classes de ativos: perspetivas para o 2.º Semestre
O mercado acionista no segundo semestre deverá manter uma dispersão de retornos significativa entre setores e geografias. Nos EUA, são as empresas com foco em qualidade e altamente rentáveis que se destacam. O aumento dos gastos em infraestruturas e inteligência artificial pelas maiores tecnológicas, as chamadas Magnificent Seven, continua a impulsionar o mercado. Já na Europa, apesar da recente canalização dos fluxos para as ações, o crescimento económico mantém-se fraco, deixando o mercado menos atrativo, com múltiplos dos lucros ainda inferiores aos dos EUA. No entanto, Japão e Índia posicionam-se como apostas estruturais: o Japão beneficia de reformas corporativas que impulsionam a atividade de M&A e a rotação de fluxos estrangeiros; enquanto a Índia continua a atrair forte procura local e internacional, com o NIFTY 50, índice de referência local a subir 7,50% desde o início do ano.
O atual contexto de abrandamento económico e perspetiva de políticas monetárias mais acomodatícias está a fazer com que os investidores se foquem em obrigações com durations mais longas, particularmente na zona euro, onde cortes adicionais do BCE podem tornar os títulos de longo prazo mais atrativos. Nos EUA, o alargamento do défice público, intensificado pela recente legislação orçamental que acrescentará cerca de USD 3,3 biliões à dívida, continua a pesar sobre os treasuries, resultando em menor procura estrangeira e saídas de capital. Enquanto isso, o segmento corporativo investment grade (IG) mantém uma relação risco/retorno apelativa: o aumento de yields, aliado a spreads estáveis, reforça o apelo deste segmento. Já o mercado de high yield exige maior seletividade: embora os spreads tenham incorporado as preocupações macroeconómicas, ao atingir máximos de seis meses, ainda são relativamente apertados, especialmente em emissores com rating BB, o que faz com que a seleção dos emitentes deva ser especialmente criteriosa.
O setor imobiliário global mantém-se em fase de ajustamento, com dinâmicas claramente diferenciadas por região. Na Europa, os setores de logística e residencial de luxo estão a apresentar forte resiliência. Por outro lado, o imobiliário comercial, sobretudo escritórios secundários, continua sob pressão devido à oferta excessiva e à migração para espaços premium. A estabilização das taxas de juro pelo BCE deverá trazer algum suporte, pelo menos aos ativos core. Nos Estados Unidos, o ciclo de ajustamento prossegue. Os escritórios centrais estão a registar uma retoma gradual, com a escassez de espaços prime prevista até ao final do ano. O imobiliário logístico continua forte, apoiado pela reativação do e-commerce e restrição da oferta.
As commodities continuam a desempenhar um papel central na proteção e diversificação de carteiras, com dinâmicas distintas por ativo e região. O ouro mantém-se como o ativo defensivo de excelência, impulsionado por uma grande incerteza geopolítica, dívida pública elevada e taxas de juro reais baixas, faz com que as previsões sobre o ouro permaneçam elevadas. O petróleo, por sua vez, permanece volátil devido aos riscos geopolíticos no Médio Oriente. Já os metais industriais, como o cobre e o lítio, beneficiam com os esforços da transição energética; a procura de cobre deverá exceder significativamente o incremento da oferta, enquanto o lítio sofre de um paradoxo — preços em queda, mas procura em forte aceleração, perspetivando-se potenciais desequilíbrios nos próximos anos.
Riscos a monitorizar
O segundo semestre de 2025 traz riscos geopolíticos persistentes. Desde a insistência de Donald Trump em substituir Powell na Fed, à incerteza criada pela lei de tarifas recíprocas pelos EUA. Em Taiwan, intensifica-se a escalada de tensões com os exercícios militares chineses. Estes fatores elevam o risco de disrupção nas cadeias de semicondutores e aumenta o sentimento de tail risk global. Adicionalmente, o risco de fragmentação regulatória, especialmente em tecnologia de AI e ESG torna-se cada vez mais crítico, com as autoridades a avançarem com normas e imposições que podem criar custos adicionais e fragmentar mercados. Por fim, a elevada concentração das mega-caps americanas, que representam cerca de 33% do S&P 500, aumenta a vulnerabilidade do mercado a correções expressivas.
A segunda metade de 2025 será moldada por uma combinação de fatores: estabilização monetária, riscos geopolíticos crescentes e oportunidades estruturais. Mais do que nunca, a gestão ativa, a diversificação e a análise fundamental ganham relevo. Os investidores deverão privilegiar qualidade, sustentabilidade de lucros e resiliência em cenários adversos. Em tempos de incerteza, a disciplina é o melhor aliado do retorno a longo prazo.
COLABORAÇÃO de Carlota Appleton, investment specialist trainee, no Banco Português de Gestão.
16 julho 2025
Funds People Portugal Online
https://fundspeople.com/pt/opiniao/carlota-appleton-banco-portugues-de-gestao-o-segundo-semestre-de-2025-traz-riscos-geopoliticos-persistentes/
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